16 de outubro de 2022

Desbancando Gordon Banks

(Douglas Germano / Luiz Antônio Simas - 08.09/2022) 


Quando por três Tostão passa gingando

Metendo caneta em Bobby Moore

A velha Albion cai no gramado do Jalisco

E a flecha, como um risco, entorta Excalibur.



Cruzada, a redonda vê o Rei

Soberano como o Manicongo

Que preciso como arqueiro zen

Sente o Furacão rente ao ombro



E a bola, rolada com brandura

Só espera a bomba do Miúra

Pra porrada que desbanque Gordon Banks



E é gol do sete marupiara!



Socam o ar os canários amarelos

Feito as ibejadas nos terreiros

No meio-dia de Guadalajara.



7 de maio de 2022

Jereco e Capucheta









Douglas Germano / Luiz Antonio Simas - 07.05.22


Cafifa, pandorga, pepeta

Piposa, cangula, curica

Morcego, banda de asa, duas varetas, suru.

Jereco e catreco fuleiras

Merrecas como a capucheta

De papel de pão.

Na Ilha da Madeira é joeira.

Pro alemão, sem cerol, é dragão.

Exu Mirim solta pipa na cachoeira

(Voou tá na mão seu moleque

Cortou, tá na mão.)

Avisa que vem o meganha

Debica como o menino

Batendo bronha:

A arte de beijar o céu

Com os pés no chão.

7 de abril de 2022

Ode do pode não pode

 (Fábio Peron / Douglas Germano)


Aquilo pode

issaqui diz que num pode

acho até que, podê, pode,

mas é bom num arriscá, não

quando num pode, pode ser

que dê é bode

nem sei se bode pode

bodejar no baião


Um pode e num pode

de rachar o quengo

num tamo podendo nem palavrear

e quem diz que num pode

tudo tá podeno

e a gente só veno

ele se arrumá


Mas issaí num infrói

e também num contribói

Nós semo tudo da lida

trabáia que dói

é preto é branco é mané

de fé, pagão ou muié

Tudo explorado

que os homi

mói como quiser.


Mas issaí num infrói

e também num contribói

Nós semo tudo da lida

trabáia que dói

Larga desse cunversê

e manda o povo juntá

os homi vão é corrê

se a crasse se infezá!

6 de abril de 2022

A quem tenha partido

(Alfredo Del-Penho / Douglas Germano)


Não vou embora

pra canto nenhum

viu, ó Mana?

Quem vai agora

em hora tardia,

há de voltar


Me entregar, não vou!

E quem fugiu verá

a minha cara, de cara,

aqui, quando chegar


Mana, eu nem tenho tempo pra rancor

Minha memória apenas gravou todo esse horror

Sei daquele que saiu e de quem já nos deixou, mana

Larga dessa matula, menina

Já disse que não vou.

4 de abril de 2022

Zelite

 (Douglas Germano / Roberto Didio) 04.04.22


Faço fé nesse povo que faz
Bicicleta certeira no gol
No trompete, no sax, no jazz
No poema deitando no flow

Um direto no queixo, caiu
Uma cesta de três pra fechar
A ginasta no pódio subiu
Mas ralou no terrão pra chegar

A Zelite não gosta de forró
A Zelite no samba, que caô
Ó comadre Zelite, tenha dó


Paraíba, meu bem
Zelador, popstar
Mas surfista de trem
Faz vagão virar mar
Não carece sofrer
Pra se vangloriar
E você?, quero ver!
Não consegue criar
Nada sabe fazer
Você sempre foi de atrasar
Capoeira é que sabe girar, jurar, vingar, gingar, jogar


Faço fé nesse povo que faz
Faz o fole sorrir no baião
Dominguinhos, maestro sagaz
Era filho de mestre Chicão

O moleque no pulo venceu
Na corrida do ouro saltou
Mais um samba bonito nasceu
Um João que João já cantou


A Zelite não gosta de forró
A Zelite no samba, que caô
Ó comadre Zelite, tenha dó


Faço fé nesse povo que traz
Tudo isso no seu matulão
E você tá querendo cartaz
Mas Zelite não faz nada não

12 de janeiro de 2022

Vermelhos faróis

 (Pedrinho Moreira/Douglas Germano – 11.01.22)

Criméia, Chatuba, Urubú

Piolho, Pedreira, Caboré, Jaú

Zoião, Carumbé, Buté, Tachã... (e Mangue)

Morrão, Milharal, Vietnã


Sucupira, Nardini,Moinho,

Barroca, Fundão, Paquetá,

Coruja, Niquinha, São Remo, Boca da Onça, Ingá

É a laje que sobe, é tijolo baiano, é a fé que arranha o céu,

os vermelhos faróis de nossa Babel


Engenho, Imbé, Cheba, Capão

Sapé, Caixa d´água, Morro Azul, Japão

Cai cai, Valo Velho, Aracati… (Aurora)

Sinhá, Cingapura e Guarani

27 de julho de 2021

Um chorinho pra Wandeca

João Poleto / Douglas Germano  (15.07.21)


Eu sou brasileira,

do swing na maneira,

do teleco teco teco,

do balaco baco também

Sou do pinta e borda

pois o que não mata engorda

sou caçamba, sou a corda

estou pro que der é vier

Saiba que não sou de brincadeira

esse gingado nas cadeiras

muita história tem pra contar

Pra desacatar, saracotear

num riso chorado que eu vou te cantar


Minha voz se deixa levar… no bordão

E enlaço o contratempo com um bandolim

E um breque de pandeiro vem levantar-me do chão


E eu vou flutuando, sincopando, me envolvendo

um choro sem lamento, pouco a pouco me aquecendo

e faço desse abraço um compasso que não vai ter fim nem lugar


E aviso pra não te iludir:

Se você pensa aí que eu vou me despedir, se aquieta!

Acabei foi de começar.

26 de maio de 2021

Até tú, Téspis?

(Gian Correa / Douglas Germano)  07.11.2018

Para o mal entendedor

você tem que desenha

tentar esclarecer, gesticular

Citar Kardec, Bíblia, Alcorão, Orixá,

Quintana, Carlos Zéfiro ou Dicró

Sem dó, o Téspis me baixou

na sala de estar

e fez o seu cavalo atuar

Com fé cega de Stanislavski

Rigor de um Dostoievski

A farsa que foi teu amor


Vilã você quebrou nossa hamonia

Agindo dissonante sem pensar

Nem um Nino Rota, *João Poleto ou Morricone (*Kenny G com saxofone)

Conseguiriam dar sentido a nossa trilha


No meu terceiro ato eu só lamento

Você não conheceu Janet Clair

Pois todo conflito só transforma amor em chama

mas no teu drama

cai o pano e eu dou no pé.

Crochê do tricô

 (Alfredo Del-Penho /Douglas Germano) 24.03.21

Para sambar:

1 - Apoie o calcanhar

2 - Pra fora gire a ponta

3 - Salte ligeiro e troque o pé

Tá feito o nó e agora é desatar,

pontear, trançar, tecer,

se perder no crochê desse tricô


Eu conheço sambador

que flutua rente ao chão,

mas já vi quem se diverte

gingando parado no salão


há quem sambe num pé só,

ou quem samba só com a mão

Tem quem mete o vai não vai,

faz que cai, samba fora do padrão


no teu gingar – tece o samba, meu bem

ou como der – trança a dança, meu bem

com teu olhar – tece o samba, meu bem

como quiser – trança a dança, meu bem

pode humilhar – tece o samba, meu bem

se derreter – trança a dança, meu bem


Eu vou gostar, me perder

no crochê do teu tricô


7 de abril de 2021

Branco

 (Fábio Peron/Douglas Germano) 07.04.21


Branca

Clara tez do profundo,

guarda as cores do mundo,

arco, íris no olhar


Branco

Pano cândido, alento,

luto e sacramento,

Ihram e Agbadá


Veste a fé do ofício,

amansa o que é difícil,

Singela valentia sagaz

Claridão do início

despojo, sacrifício,

grandeza e desadorno da paz


Ilusão, alumbramento,

centelha, esquecimento,

o búzio, os segredos de Ifá

Seiva mãe que a vida acende

o saber que compreende

uma pedra no Adé de Oxalá.

3 de abril de 2021

Onde valsa a Liberdade

Douglas Germano (jul. 2016)


Meu Palacete assobradado

fica à esquerda da direita de quem vai

da praça da Sé, a pé, em busca da misericórdia

É uma quina colorida numa esquina meio dor

Uma sacada que transforma transeunte em sonhador

Um peito de porta aberta, uma escada que te espira

a um pedaço de céu...

Onde pensamentos ganham luz,

onde nossos versos andam nus,

onde tem morada quem se arrisca,

pois na Casa de Francisca,

Valsa, linda, a liberdade

Branco - Letras e Ficha Técnica

1. Na Ronda (Douglas Germano) Na ronda assopro na brasa, marreta no berro, a faca no cio Na ronda estalo no mato, pancada na terra, enxada n...