19 de dezembro de 2008

1983 - Av. Tiradentes

Meu pai me colocou no fusquinha azul pavão e lá fomos nós. Eu, por capricho e por sentir que deveria estar bem arrumado para a ocasião, prendi com um durex, uma pluma branca em cada um dos oito tirantes do meu repinique. A fantasia era branca com detalhes em prata. Um chapéu com formato de águia, prateado, com plumas brancas nas pontas das asas. Uma baqueta na mão e outras duas enfiadas na cintura. Todas com as pontas cortadas, pois assim que se fazia. Não era mole. Se eu olhasse para a direita tinha Claudemir e Sérgio, para a esquerda Maurício e Vanderlei, na fila de trás Bonfim, David, nos surdos, Vicente, Serjão e nos tamborins, Dartangnan e Cia. No carro de som, o Armando e na frente da batucada, Lagrila. Passamos bonito com o grito de "Nenê, Nenê, Nenê" que sempre acompanhava a entrada da escola. O breque a gente fazia com os repique levantados acima da cabeça. Cinco batidas e trazia de volta pra cintura para então, chamar a volta do samba. Meu pai, na arquibancada no setor em frente ao box, fazia um aceno e me mostrava para outras pessoas na arquibancada. Acabado o desfile, retornava pelo lado de fora já ouvindo o som da escola seguinte. Chegava e encontrava o Germanão de olho vermelho. Tinha chorado. Mais pelo filho que pela escola, pois sempre teve o pé na saracura.
– E aí pai! Como foi? Tava boa a bateria?
– "Ceis" malharam eles. Vamo ver como é que vem o Camisa, mas eu acho que pra ganhar, tem que ganhar de vocês.
Ele dizia isso todo ano.
Era uma glória. Acima uma das poucas fotos que tenho. Está foto foi na apoteose da terça-feira onde todo mundo desfilava outra vez. Como a Tiradentes era aberta, existiam uns fotógrafos que tiravam a sua foto e te entregavam um papel com uma numeração e o endereço da loja pra você ir retirar depois. Essa eu fui buscar. No repinique ainda estão as plumas com durex. Quarta-feira de manhã com sol já para as 8:00h. Abaixo trecho do desfile principal.

Na Ronda

Douglas Germano – 17.02.2024 Na ronda assopro na brasa, marreta no berro, a faca no cio Na ronda estalo no mato, pancada na terra...