11 de agosto de 2018

Vento...


Minha Voz é um vento
Douglas Germano (05.17)

Minha voz pode ser afago em cantoria,
um sopro de mãe ninando a cria,
uma brisa morna da Bahia
Minha voz é rodamoinho pra quem sai da raia.
Bate porta, quebra louça e levanta a saia, vento de Yansã quem vai domar?
Rajada no tempo Chio de eruexim
chacoalha o bambu e devolve pra tu
o que jogas pra cima de mim
Mas se és de bondade,
eu tenho um canto pra te dar
e toda a maldade, o vento vai carregar
Que eu tenho um tufão nesse meu coração
que me tira do chão pra eu cantar

FIM: Vento de Yansã quem vai domar?

Exu


Àgbá
Douglas Germano  (25.01.18)


Trilha, caminho, picada, pirambeira
viela, vereda, rumo, rota, portão
Língua, recado, conversa, rabulice
palavra, promessa, parecer, palavrão

Ontem caiu uma pedra lá fora
que o lançador só vai jogar agora
é dele transformar
é dele por pra andar

Ê Agbá
Ê Adaguê
Ê Elebo
ê ê Demi
ê ê Bará
ê ê Opin
Eê Laroye


Gozo, laracha, galhofa, cascalhada
joguete, piada, farra de reinação
Falo, cacete, porrete, vuco-vuco
na brecha, no coito, trepa-trepa no vão

Ontem caiu uma pedra lá fora
que o lançador só vai jogar agora
é dele transformar
é dele por pra andar

Ê Elegbará
Ê Burucu
Aluvaiá
Ejise-ebo
Ê Tiriri
êê Lode
ê Laroye

Para Francineth...


Sacerdócio
Douglas Germano (23.05.18)

Eu tenho um tanto de mim
que hoje vim lhe entregar
cultivei de amor, reguei com lágrimas
que derramei de sorrir
que eu nem sou de chorar
trouxe aqui meu canto pra lhe dar

Melancolia
em mim não tem lugar
Nem nostalgia,
deixa o tempo andar
Eu quero ver nascer
um dia bem melhor de verdade
E quando ele chegar
sei que vai me encontrar por aí cantando
meu sacerdócio
função mais dócil
me entregar deste lugar

Guarde meu sorriso
leve a minha voz
que só serviu
pra se erguer por nós

Meus afetos só tem vez...



Madrugada
Alan Abadia | Douglas Germano 05.10.2017


Sinais ficam piscando no amarelo
Em paz um gato cruza a Consolação
No bar não há quem não levante os pés
com o balde d’água no pé do balcão
No ar perfumes de damas da noite
E amor há maquiado em cada esquina
— Fica ou vai? Pois o metrô já vai fechar,
— Abre outra e deixa estar… tem um negreiro às três

— Fico, vai! Agora eu pago, pede três!!!
Meus afetos só têm vez na madrugada

E assim, “conversa dentro” a noite inteira
Um samba, um gol que alguém tenta lembrar…
Um nome de mulher, uma estória, um carnaval,
rever o cabedal faz bem
E a lua serve pra lembrar
que o dia vai dormir
pro bom da alma despertar

Um pranto pra desabafar...


Água que sai do olhar
Osni Ribeiro e Douglas Germano ou Ribeirinho e Varzeano (23.02.18)


A batida do surdo vai marcando a cadência do samba
vem entrando um ganzá
Chega sorrateiro um tamborim trazendo um pandeiro
e a cuíca chora por mim
A tristeza do sambista, aprenda, não é lenda!
Mas entenda porque muita gente não vê:
Quando o samba começa, a tristeza, cadê?
É no calor da festa que o suor escorre da testa,
gota a gota, escondendo toda a lágrima.

Um canto pra espairecer, um pranto pra desabafar, um riso pra remediar um Banzo que teima doer:

Sentidos da água que sai do olhar.

Saiu para pescar...



Yemanjá Conlá
Ricardo Valverde / Douglas Germano (04.02.18)

Saiu pra pescar
Seis dias no mar
Tanta solidão
e na escuridão
pediu pra Yemanjá:
Um pescado bom,
bom tempo, um vento lento
pra lhe carregar pra fora do mar
Quer ver o seu bem
a saudade é a dor maior
que há no mar
E a rainha quis provar
do grande amor e carregou
o pescador pra amar

Corpo em preamar,
olhos de pavor,
cheio o samburá,
morto de amor

Eru-iyá odo-iyá Yemanjá
Eru-iyá odo-iyá Yemanjá

Metrô Anhangabaú



Inês e Cadu
Alfredo Hacl / Douglas Germano (08.08.18

Foi lá no Anhangabaú
Tocam a mão de Inês
Catuf, empurrão, sururú
tudo às cinco pras seis

Tinha tanto celular
registrando palavrão
Em pleno Anhangabaú
tocam Inês na mão

— É ele! Grita um mais afobado
Um gogó e uma banda, no coitado
já foi pro chão bem mais vermelho que vermouth
há quem diga que houve chute,
Fora Temer! Vai pra Cuba!

E então, pintou três urubu
Um só pra Inês... e dois só pro Cadu...
Inês, casou depois de um mês
e hoje, feliz, o Cadu
racha o apê a três

Na Ronda

Douglas Germano – 17.02.2024 Na ronda assopro na brasa, marreta no berro, a faca no cio Na ronda estalo no mato, pancada na terra...