31 de janeiro de 2018

Tapa no tempo

Douglas Germano® | 29.01.18


Sou da batucada
eu sou da baqueta,
do ferro, do couro,
eu sou da madeira,
da casca, do forro,
sustento o chão
que você vai pisar

Eu sou do batuque,
sou tapa na cara
da pele e do tempo,
eu sou o pedal,
o swingue, o acento
no assento de Àyan
que me guia a tocar

También, soy latino
da cúmbia, candombe,
do son e do tango,
da santeria, da salsa
do mambo, da rumba,
da cáscara pra usted bailar

No 2, no 5, no 7, no 13 e 18
não ligo, pois só até 8
quem dança costuma contar

Sou rei vagabundo
e na foto de capa
eu estou sempre no fundo,
mas é minha mão
que segura esse mundo
que a música faz
pra vida melhorar

Dedicado ao parceiro Júlio César e, através dele, a todos os batuqueiros destas paragens. E como tem batuqueiro bom!

6 de janeiro de 2018

Meia Volta

Disco de estreia do compositor e violonista Miguel Rabello com a cantora Luísa Lacerda dá uma volta vigorosa no discurso que acusa de morte o que não pode alcançar.


A busca da síntese é uma compulsão diária para qualquer compositor. A boa síntese, a perfeita, a abrangente, a que diz tudo contando muito pouco, mendigando sílabas da melodia. Existem verdadeiros tratados sobre o tema, e em sua grande maioria, analisam a música popular sob o viés da letra. “Se fizer bom tempo amanhã, eu vou / Mas se, por exemplo, chover, não vou...” Caymmi um exemplo máximo desta habilidade.

A letra, na canção popular, sempre moldou completamente a personalidade da canção. Existem as exceções, óbvio, como os choros que foram letrados muito tempo depois e outras músicas que partem de um princípio diferente, nobre e raro: O Discurso musical.

Qual é a síntese do discurso musical? Existiria uma? O discurso musical não busca fecho, busca saída, caminhos. Invariavelmente e com naturalidade rompe o formato A/B, as fórmulas binárias e tonais. Caminha só, movendo um balaio de sensações que letra nenhuma irá alcançar. Eis aí Miguel Rabello mostrando as unhas.

As letras que correram atrás de sua música são assinadas por Paulo César Pinheiro, Roberto Didio e André Lacerda. Fizeram o trabalho direito, claro, mas a cada verso o ouvinte poderá notar que Miguel deu a ordem: Quem manda sou eu e meu violão!

22 anos recém completados, violão maduro de personalidade, canta bonito também. Ouvir as canções de Miguel é dirigir por estrada desconhecida, sem sinalização e com uma surpresa extasiante a cada curva. A alegria de novas paisagens enterrando a obviedade e os argumentos sobre a morte da canção.

Meia volta, primeiro disco de Miguel Rabello, é também o primeiro de sua paceira, Luísa Lacerda, a voz na maioria das canções. E é neste cenário de melodias sinuosas com arranjos sutis e sensíveis de Cristovão Bastos que Luísa faz sua estreia. 26 anos. Precisa, natural. Nos canta sem rodeios todos os caminhos traçado a unha pelo autor.

Há participações de peso em “Meia Volta”: Flora Milito e suas intervenções de extremo bom gosto, o piano de Cristovão Bastos pai de Miguel, o violão de João Camarero, o cavaquinho de Ana Rabello e a voz de Amélia Rabello em “Lição de Vida”. Tudo girando em redor do Violão de Miguel.

Meia Volta carrega a mancheias a juventude que os velhos preservam, a consistência que os jovens esquecem e a música que abre picada para novos horizontes.
Miguel, além de ter com o padrinho de batismo, Paulo César Pinheiro, uma obra que ultrapassa 50 canções, também prepara, em parceria com o excepcional letrista Roberto Didio, um show com canções inéditas intitulado Suíte Brasil e que já teve uma prévia em outubro último em São Paulo e em Campinas.

O disco, que foi possível através de financiamento coletivo, saiu pelo Selo da gravadora Acarí Records e está disponível para venda na Casa do Choro e no site da Acarí Records

Você pode conhecer Miguel Rabello e Luísa Lacerda em seus respectivos canais de YouTube:



Evoé! Jovens à vista! 

Na Ronda

Douglas Germano – 17.02.2024 Na ronda assopro na brasa, marreta no berro, a faca no cio Na ronda estalo no mato, pancada na terra...