Disco de estreia do compositor e violonista Miguel Rabello com a cantora Luísa Lacerda dá uma volta vigorosa no discurso que acusa de morte o que não pode alcançar.
A busca da síntese
é uma compulsão diária para qualquer compositor. A boa síntese, a
perfeita, a abrangente, a que diz tudo contando muito pouco,
mendigando sílabas da melodia. Existem verdadeiros tratados sobre o
tema, e em sua grande maioria, analisam a música popular sob o
viés da letra. “Se fizer bom tempo amanhã, eu vou / Mas se, por
exemplo, chover, não vou...” Caymmi um exemplo máximo desta
habilidade.
A letra, na canção popular, sempre moldou completamente
a personalidade da canção. Existem as exceções, óbvio, como os
choros que foram letrados muito tempo depois e outras músicas que partem de
um princípio diferente, nobre e raro: O Discurso musical.
Qual é a síntese
do discurso musical? Existiria uma? O discurso musical não busca
fecho, busca saída, caminhos. Invariavelmente e com naturalidade
rompe o formato A/B, as fórmulas binárias e tonais. Caminha só, movendo um balaio de sensações que letra nenhuma irá alcançar.
Eis aí Miguel Rabello mostrando as unhas.
As letras que correram
atrás de sua música são assinadas por Paulo César Pinheiro,
Roberto Didio e André Lacerda. Fizeram o trabalho direito, claro,
mas a cada verso o ouvinte poderá notar que Miguel deu a ordem: Quem
manda sou eu e meu violão!
22 anos recém
completados, violão maduro de personalidade, canta bonito também.
Ouvir as canções de Miguel é dirigir por estrada desconhecida,
sem sinalização e com uma surpresa extasiante a cada curva. A
alegria de novas paisagens enterrando a obviedade e os argumentos sobre a morte
da canção.
Meia volta, primeiro disco de Miguel Rabello, é também o primeiro de sua
paceira, Luísa Lacerda, a voz na maioria das canções. E é neste cenário de melodias sinuosas com arranjos sutis e sensíveis de
Cristovão Bastos que Luísa faz sua estreia. 26 anos. Precisa,
natural. Nos canta sem rodeios todos os caminhos traçado a unha pelo autor.
Há participações
de peso em “Meia Volta”: Flora Milito e suas intervenções de
extremo bom gosto, o piano de Cristovão Bastos pai de Miguel, o violão de João
Camarero, o cavaquinho de Ana Rabello e a voz de Amélia Rabello em
“Lição de Vida”. Tudo girando em redor do Violão de Miguel.
Meia Volta carrega a mancheias a juventude que os velhos preservam, a
consistência que os jovens esquecem e a música que abre picada para
novos horizontes.
Miguel, além de ter
com o padrinho de batismo, Paulo César Pinheiro, uma obra que ultrapassa 50 canções,
também prepara, em parceria com o excepcional letrista Roberto
Didio, um show com canções inéditas intitulado Suíte Brasil e que
já teve uma prévia em outubro último em São Paulo e em Campinas.
O disco, que foi possível através de financiamento coletivo, saiu pelo Selo da gravadora Acarí Records e está disponível para venda na Casa do Choro e no site da Acarí Records.
Você pode conhecer
Miguel Rabello e Luísa Lacerda em seus respectivos canais de YouTube:
Evoé! Jovens à
vista!