7 de agosto de 2014

Insignificâncias

João Poleto | Douglas Germano  |  Março 2014


Flor do terreno baldio
Coração do meu quintal
Deslimites de inocência
Cai do olho palavra que é cega de voz
Sopra a boca a lágrima muda de sóis

Flor do quintal mais gentil
Meu baldio Coração
Deslimites de menino
Chove cor, venta rio
Me pariu a manhã
Sabiá me contou despalavra mais sã:

—Há tanto de Manoel
deslocando chão e céu,
revirando pedra em flor,
revoando folharal,
cultivando sombra em rio,
desformando todo o amor em mar...
tingindo em mar

— Há tanto de pedra em flor,
cultivando sombra em céu,
revirando folha em mar,
revoando Manoel,
deslocando amor do chão
quando planta lápis no papel
pra menino ver brotar

Com um abridor de amanhecer
rindo, mentindo,
sem dó, sem dor
Me desinventou
pra me humanizar
rindo, mentindo que é nada...

Ratapaiápatábarreno!

Ratapaiápatábarreno
Douglas Germano  | Maio 2014


Mas é que a língua de quem fala,
quem ouve não tem.
Mas é que a língua que não ouve,
não fala também.

A dona dum forró lá no Muquém
riscô a tabuleta, buto na parede,
fez uma careta e num agrado ninguém

Dizia a praca:

"Oli Oli, tá poribido, experéssamente, a partiruoje pé de foice aqui" !

Fui assuntá:
— Ô Dona Derfina!   Paquê poribissão nesse imenso fim di mundo?

Ela me disse que os pé de foice
rica tudo o cacolac le arranca os taco tudo
Os pé de foice num sabe xaxá
e os taco soto? Ratapaiápatábarreno


Mas é que a língua de quem fala,
quem ouve não tem.
Mas é que a língua que não ouve,
não fala também.

A dona dum forró lá no Muquém
riscô a tabuleta, buto na parede,
fez uma careta e num agrado ninguém

Dizia a praca:

"Oli Oli, tá poribido, experéssamente, a partiruoje esse baêro aqui"

Fui assuntá:
— Ô Dona Derfina!   Paquê poribissão nesse imenso fim di mundo?

Ela explicô que dinhêro rá gastô
po chero num virá fedô sapecano glêde

po chêro num virá fedô? Rabutoglêde

Pá num dá bicho vuadô? Rabutoraid

Mas é que a língua de quem fala,
quem ouve não tem.
Mas é que a língua que não ouve,
não fala também.


Por inspiração do olhar aguçado de Everaldo F. Silva.

Na Ronda

Douglas Germano – 17.02.2024 Na ronda assopro na brasa, marreta no berro, a faca no cio Na ronda estalo no mato, pancada na terra...