11 de junho de 2014

“...nesse mundo, Pai, ninguém é melhor do que ninguém."

Zico e a pressão de Gentile em 82.

Foi na copa de 2006. Guilherme tinha 2 anos e meio. A mídia toda, especialmente a que é sócia da seleção brasileira, havia eleito Kaká o “bom moço”, o “craque”, a “esperança” de título brasileiro naquela copa.
Eu estava meio contrariado vendo o Gui repetindo as máximas sobre Kaká. Resolvi diminuir o espaço e apertar a marcação:

— Sim, o Kaká joga bem, mas o Brasil tem uma história recheada de craques, sabia?
— É mesmo, Pai? Assim que nem o Kaká?
Foi a deixa que eu queria e que arranquei, quase criminosamente, de uma criança de dois anos e meio.  Então lasquei o rosário. Fui de Didi, Zizinho, Gerson, Garrincha, Sócrates, Zico, Falcão, Mário Sérgio, Edú,  Tostão, um panteão e dei destaque  para o Pelé: Batia com as duas, cabeceava, driblava, passava, batia faltas e jogou até no gol...
— Nossa, Pai, tudo isso?
— Sim, por isso que eu digo que o Kaká é bom, sim, mas...
— Pai, sabe o que minha professora falou? — perguntou sem tirar os olhos do papel que rabiscava. 
— Não. O que, filho?
— É que nessa vida, ninguém é melhor que ninguém.
Concordei e,  completamente sem jeito, alí, com o Pelé no colo, sai de fininho pro vestiário.

A tese do Gui e sua professora estão, ao meu ver, valendo pra esta copa. Imagino que teremos jogos bem chatos, com poucos gols, muitos chutões de zagueiros lá pra frente e muitas faltas. A Alemanha, na copa de 2010, pintou como promessa pra essa copa de 2014. Talvez.  Espanha não tem mais seu tic-tac tão calibrado como em 2010. França, Portugal, Argentina, têm bons jogadores, mas giram em torno de seus “diferentes”, Ribery (que não estará), Cristiano Ronaldo e Messi. A mesma coisa acontece com o “Brasil de Neymar”, como será lembrada essa seleção, imagino.
O Brasil, por mais que tenha ferramentas afiadas como Neymar e o próprio Bernard, deverá sofrer muito para fazer os seus golzinhos. Sempre teve e isso irá se agravar jogando em casa. Vamos encarar verdadeiros ferrolhos e muito contra-ataque por conta da subida de nossos bons laterais.  Nosso meio campo é formado por jogadores que não têm como característica a facilidade na cobertura lateral. São volantes agudos. Acho que não vai demorar muito pro Bigode meter o terceiro zagueiro, imagino que Henrique, para jogar na frente dos dois zagueiros apoiando a cobertura dos laterais. Isso vai tornar nosso jogo mais burocrático ainda.
Vai ser difícil. Torço pro Neymar não se machucar, pro Fred continuar resolvendo numa bola só (não vão chegar muitas pra ele) e pro Oscar voltar a jogar pois o bom passe, o passe inteligente é ele quem tem e esse passe será importantíssimo.
Acho que a gente leva, mas será de meião arriado e camisa pra fora do calção.

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