“Orí” é tapa na cara e precisa ser ouvido
Nasceu Orí (*). Douglas Germano, poeta irrepreensível, cronista inconformado, nos presenteia com um belíssimo CD que garante um frescor à discografia brasileira destes tempos. É obra de urgência, que berra. Que não assina protocolo, não é insípida, tampouco inodora. É oposto.
Tudo brotou das andanças do compositor, do olhar atento e inflamado acerca do cotidiano, da forma ritualística de narrar suas histórias e personagens, da sabedoria na espera. Comemoro este trabalho também por rememorar o que há de melhor no cancioneiro dos afrosambas e paralelamente desvirtuá-lo. Mudar seu curso. Douglas coloca uma lupa nesta música e a contemporiza com uma assinatura inconfundível. Ao mesmo tempo resgata o gênero com atabaques e toques dos terreiros de religião afro tendo-os como convidados de honra da festa.
“Orí” é convite para andar na corda bamba da metrópole de “Damião”, personagem de uma das canções, pseudônimo de tantos que perderam a chance de viver e nos devolve o “hematoma”, apontando a arma para nós. Nação. Nação, de quem?
Germano faz poesia que nos tira da cadeira, irrita nossas escolhas egoístas. Com arranjos concisos e interpretação densa, o disco se cria em cenas, falas, gente de carne e osso. Não há espaço para discurso noveleiro. Mas há sonho de verdade, beleza, dignidade na vida simples, esperança em gente de sorriso largo, samba como escolha consciente e um jeito alegre e bom de levar a vida. Música que arrastaria João Nogueira e Paulo César Pinheiro a varar madrugadas contemplando. E tantos outros.
“Orí” pra mim já é referência, guia. Precisa ser ouvido, aplaudido.
Obrigada Cuca!
(*) Na tradição dos orixás “Orí” significa “cabeça humana” onde reside o conhecimento e o espírito.
Por Fabiana Cozza em sua coluna semanal no Yahoo, em 28/04/2011
Obrigado, Fabiana!
3 de maio de 2011
ORÍ — CRÍTICA
Leia abaixo a crítica que a querida Fabiana Cozza fez de Orí.
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