6 de maio de 2011

ORÍ — CRÍTICA II

LinkAqui a crítica de Daniel Brazil para a Revista Música Brasileira

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O samba invocado de Douglas Germano
Por Daniel Brazil - 06/05/2011

O samba de São Paulo volta e meia surpreende. Novos compositores e intérpretes reinventam a tradição, incorporando imagens e versos que retratam o caos da metrópole e suas contradições. Ora com raiva, ora com humor, os novos menestréis demonstram a perenidade do samba como força motriz da cultura brasileira.

Um dos mais convincentes exemplos dessa presença é o recém lançado CD Ori (BAC discos, 2011), de Douglas Germano. Compositor, cantor, músico e letrista inspirado, Germano ainda é pouco conhecido fora do circuito paulistano. Em seu trabalho anterior, formou o Duo Moviola, com Kiko Dinucci, onde o humor e a mistura de gêneros e estilos já demonstravam o talento dos integrantes.

Em Ori, a primeira impressão é de que se trata de uma versão contemporânea dos afro-sambas de Baden e Vinicius. Com forte presença de atabaques e sonoridades de terreiro, canções como Obá Iná e a própria Ori relembram a presença africana no samba. Mas a audição aos poucos revela outras nuances, onde a crônica urbana (Damião, Falha Humana) e a poesia doce/amarga (Canção de Desmeninar) se mesclam à veia satírica (Seu Ferrera e o Parmera). Esta última é uma contribuição genial ao nem sempre bem resolvido casamento entre futebol e samba na música popular brasileira.

Como não citar o lindo samba-homenagem à Nenê de Vila Matilde (Deixei Meu Coração na Vila), que faz qualquer cantarolar o refrão, mesmo que torça pra outra escola? E o samba com sotaque nordestino (Cordel da Bananeira), tão presente no cotidiano do povo paulista?

Douglas Germano fez um apanhado de composições compostas na última década, e fez um caprichado disco de samba que oxigena o circuito musical, fazendo florescer ainda mais o bom momento que o gênero vive nas mãos dos jovens compositores. É disco pra se ouvir muitas vezes, cantando junto. E enquanto não chega fisicamente nas lojas, você pode ouvir as faixas no blog do artista, o Partido Alto. Experimente!

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