Duas cartas são expostas. Normalmente, um valete e uma dama ou um ás.
É um jogo para muitos jogadores ou para quantos couberem na mesa. Quem está a jogo nesta parada escolhe a sua carta e faz a aposta. Em seguida elas voltam para o baralho. O Croupier as embaralha e expõe o monte aberto para que todos vejam. A partir disto ele começa a puxar uma por uma. Todos já vêem a carta de baixo quando ele começa a puxar. A carta que sair primeiro fará o vencedor. O Valete ou o Ás. É isto.
Boa parte de minha infância foi sustentada com dinheiro de jogo. Especialmente o de Ronda. Meu pai, croupier, dificilmente jogava. Diz ele até hoje: — Eu só acredito em jogo roubado!. Não fosse assim haveriam outras dificuldades no sustento da casa. Quando jogava, era em outro "clube", como são chamados as bocas de carteado, pois nunca jogava onde trabalhava. E evidentemente, ia onde os ataques eram certeiros e as mesas de tranca e cacheta lotadas de desavisados crentes na sorte.
Voltando à Ronda, cansei de ouvir de meu pai histórias de jogadores. Dos que iam para jogar o salário e saiam pedindo café fiado e dos que deixaram a chave da casa, de carro e até de um helicóptero para pagar dívida. Não é difícil imaginar o perfil e o tipo de atividade de pessoas que deixam chave de helicóptero na mesa de jogo. Muitos me foram citados pelo velho. Jogadores de futebol, políticos, muitos políticos e invariavelmente altas patentes da polícia e da justiça. E não eram rodadas aleatórias não. A banca lotava toda semana e em alguns destes clubes haviam adegas com bons vinhos e cozinha com bons pratos.
Eu estou achando muito engraçado este alarde com os caça níqueis e bingos. Eu ouço falar de jogo desde criança. Qualquer botequim tem campeonato de dominó, truco, palitinho. Sobre o jogo de bicho, todas as pessoas que conheço e que jogam regularmente já ganharam mais de uma vez e botam a maior fé no esquema: — Jogo limpo! Ganhou eles pagam direitinho. Se você não for à banca, eles mandam entregar o prêmio em casa.
Estão querendo mesmo é repartir o bolo. É muita grana e grana certeira pois o brasileiro adora jogar, mas os jornais sempre cínicos adoram mostrar com estranheza coisas que fazem parte de nosso cotidiano como se não fizessem parte do cotidiano de editores, repórteres, diretores, lobistas, parlamentares, diplomatas e lá na base da cadeia alimentar o Zé que só se ferra. O azarado que não dá uma sorte nunca.