29 de maio de 2007

CONTRAPÉ - 19/05/2007

Foi Milena dançar
Tudo em volta parou
Parou congelando todo tempo
travou sofrimento, rio e mar
brecou chuva, raio, alagamento
e o trânsito lento do lugar 
Mas da barra da saia sai um vento
que traz um alento de matar
Eu nem ligo se travo em contra-pé
mas eu brigo se ela parar 

Foi Milena dançar
Tudo em volta parou
Parou bala, faca, grito, soco
Parou beijo oco, mão no ar
parou desacato que ia rouco
parou mina antes de estourar
pois da barra da saia sai um vento
que põe cada coisa em seu lugar
e sinuca de quina nossa fé
que problema, é se ela parar

Foi Milena dançar
Tudo em volta parou
Parou missa, reza, gira, ponto
e o crente já pronto pra pagar.
De olho fechado, nego tonto
que fica sem ver ela dançar,
que da barra da saia sai um vento
que faz pensamento se ajeitar
o que vale da vida, vida é
isso, enquanto Milena dançar

MOURÃO QUE NÃO CAI - 04/05/2007

Mourão que não cai  04|05|2007
D. Germano para Rai...

Sou fogo, sou Rai, pedreira, trovão
mourão que não cai
Malandro é que vai de cara no chão
se eu gingo pra cá e giro pra lá,
se perde em meu turbilhão
que de um lado, caminha Ogum
e do outro, caminha Iansã
e no meio, cá minha cruz, vou eu
Eu nasci e não vou Pará
Eu saí me deixando lá
Fiz do olho, uma seta de alta mira
Jogo o jogo sem pio
hora palco, hora meio-fio,
hora rio ou derramo um rio de chorar
Samba, quimbanda, macumba,
batucada, tabaque, zabumba
Enluarada me visto,
me entrego de cantar.

SEU FERRERA E O PARMERA - 17/05/2005

Partido Alto abre espaço para um Samba de breque. Na última sexta, arrematei a epopéia dedicada ao parceiro e amigo Everaldo F. Silva

Sempre que o Parmera joga em casa
com tufão ou sol em brasa, o Seu Ferrera vai
de manhãnzinha ele já sai
Rapidinho ele se veste e embarca na leste-oeste
pra descer na Marechal
de lá, a pé é mais legal
Em direção ao Parque Antarctica
invade um butiquim e pede uma Brahma
se não tiver ele reclama
E descutindo o certame, ele arrisca um salame
e diz que hoje dá
Mas o Marcão não vai jogar
Depois da quarta abrideira paga e sai
de butiquim em butiquim é que ele vai
pois sabe que a torcida que canta e vibra
não é a mesma sem Ferrera lá
Ele é o terror do Mustafá
Compra o jornal e lê primeiro o Avalone
o Chico Lang rasga e joga em plena pista
Juca Kfouri ele despreza friamente dizendo:
Ele esqueceu que é freguês da gente
E vai assim todo contente
Em frente ao parque ele avista toda a massa
é casa cheia para ver o verde escrete
encara uma calabresa ao vinagrete
e descobre que o Magrão hoje joga com a 7
Esse é valente, esse é o valete
Adentra o Majestoso da Pompéia
e verifica que a platéia está toda lá
Para a torcida adversária do outro lado
faz um sinal mal educado e vai se sentar
Nesse momento o Verdão penetra a cancha
e ele sambando com o batuque lá da Mancha
Diz: Que beleza! Que tarde azul
hoje não sobra nada para o XV de Jaú.

Começa o jogo e fica aquele vai-não-vai
toque de lado, passe errado e o gol não sai
Inteligentemente o XV contra ataca e distribui
drible da vaca só pra chatear
Aos 37 seu Ferrera se lavanta
contrariado ele não vibra e nem canta
Grita: Juiz! Já ficando azul
não vê que isso foi falta e bem em cima do Dudú.
Mas não adianta! Zé Mário
1 a 0 XV de Jaú
E o juiz apita e aponta o meio campo
o primeiro tempo foi aquele desencanto
Compra uma água, um amendoim
diz: no segundo tempo a gente vira, vai por mim
O XV nunca joga assim
Começa o jogo e recomeça todo o drama
porque o XV faz um baile em plena grama
Num cruzamento displicente do Alceu,
o Magrão tava impedido mas o gol Valeu
Seu Ferrera enlouqueceu
O tempo passa e o jogo fica uma trsiteza
Pros jogadores o empate tá beleza
E ele grita:
Pro ataque seus Jacú!
Nervoso, o Seu Ferrera treme mais que o Yamandú
Ô Magrão! esse aí não é o Barça não!
É o XV de Jaú, seu mané!
47 um escanteio pro Parmera
e a torcida faz zoeira só pra ver se dá
Alceu levanta e alguém enfia a testa
silencia o Palestra...
pra depois vibrar

E o juiz apita e aponta o meio campo
O Claudecir sai do gramado como um Santo
E seu Ferrera, creia você
Foi beber à vitória no ensaio da Nenê

28 de maio de 2007

COSME 07/03/2005

Cosme é gente boa
Após seis meses sem conseguir apurar responsabilidades, a gloriosa justiça paulista libertou dois dos quatro suspeitos de assassinarem moradores de rua no centro da capital paulista. Os outros dois continuarão presos para apuração de participação em outros crimes. Movimentos assistencialistas talvez dêem as mãos e façam um passeio pelas ruas do centro para aliviar suas culpas, pois de resto, acho que o assunto fica por aí. A morte destes seres humanos interessa a pouca gente.
Matéria da folha de SP publicada à época aqui

Para não esquecer de Cosme.
O cenário cínico, pedi emprestado a Mario de Andrade:


Cosme andava à-toa,
cinza de garoa
e pra desvairar
dava de cantar
a dor de assum preto em pleno galicismo

Cosme é gente boa
e cinza de garoa
deita arlequinal,
sonha algodoal,
sangra e vira bruma em pleno galicismo

Há quem deixe a Cosme alguma dó
Há quem deixe apenas Cosme só
Há quem deixe Cosme agonizar
nos desertos desta América.

Na Ronda

Douglas Germano – 17.02.2024 Na ronda assopro na brasa, marreta no berro, a faca no cio Na ronda estalo no mato, pancada na terra...